A árvore rara ameaçada de extinção que ajuda a gerar renda em comunidade indígena
24/11/2025
(Foto: Reprodução) Muda da árvore pau-santo.
Alicce Rodrigues/Projeto Elegigo
Uma expedição dedicada à restauração socioecológica terminou nesta segunda-feira (24) na Terra Indígena Kadiwéu, em Mato Grosso do Sul. Ao longo da ação, foram plantadas 425 mudas de pau-santo (Bulnesia sarmientoi), espécie ameaçada de extinção e de reconhecida importância cultural para a comunidade.
As mudas, produzidas ao longo de quatro anos de pesquisa, foram plantadas em áreas prioritárias para a restauração pós incêndio, definidas pela equipe junto à comunidade. Parte delas foi colocada perto das residências — especialmente das ceramistas — para facilitar o uso na produção de cerâmica e, assim, apoiar a preservação cultural e a conservação da espécie.
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A iniciativa faz parte do projeto Elegigo — “pau-santo” na língua Kadiwéu —, desenvolvido pelo Laboratório Ecologia da Intervenção do Instituto de Biociências (Inbio), que trata da conservação, restauração ecológica e cadeia produtiva de plantas nativas de interesse indígena no Pantanal.
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Segundo a professora do Inbio e coordenadora do projeto, Letícia Couto, a iniciativa tem destaque em várias frentes:
🌱social, por envolver a comunidade indígena nas ações;
🍃ambiental, por se tratar de uma espécie rara e ameaçada de extinção;
🔎cultural, pois a resina da árvore é usada na cerâmica tradicional do povo, gerando renda às artesãs;
🔬científica, uma vez que a produção dessas mudas é inédita no país e serão plantadas em áreas prioritárias para restauração.
As áreas destinadas ao plantio foram mapeadas com apoio do Ministério Público de Mato Grosso do Sul, do Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais do Departamento de Meteorologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e de laboratórios da UFMS.
Espécie ameaçada de extinção
Entre as espécies de interesse da comunidade, o pau-santo se tornou prioritário por sua relevância na produção de cerâmicas envernizadas com resina obtida do cozimento do lenho da árvore. Essa resina é empregada para produzir a cor preta presente no grafismo das peças elaboradas pelas mulheres Kadiwéu.
“É um patrimônio do Pantanal, do Chaco e de Mato Grosso do Sul”, informa Letícia.
A pesquisadora explica que a espécie é rara e, no Brasil, ocorre apenas no Pantanal Chaquenho e em Mato Grosso do Sul. “Os poucos registros são restritos ao MS, a coleta do primeiro registro de frutos maduros do país foi aqui durante o projeto, em setembro de 2022, e o primeiro registro de flor do país foi em novembro de 2023, pelo brigadista Laercio Fernandes Ramos”, aponta.
De crescimento lento e pouca produção de sementes, o pau-santo é muito explorado por sua madeira densa. Por isso, é considerado globalmente ameaçado de extinção pela União Internacional para a Conservação da Natureza e está listado na Convenção sobre Comércio Internacional das Espécies da Flora e Fauna Selvagens em Perigo de Extinção, que regula seu comércio internacional.
“Vimos em nossos estudos que os cenários de projeções de mudanças climáticas são avassaladores para esta espécie, por isso a importância de não deixarmos ela entrar ou permanecer em listas como estas. Conservar e restaurar as espécies ameaçadas repercute no habitat, ou seja, focar em uma espécie também reflete em conservar várias outras em conjunto”, ressalta Letícia.
Participaram da atividade pesquisadores da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), integrantes da comunidade Kadiwéu e brigadistas do Centro Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (PrevFogo/Ibama).
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