De Almir Sater a Ana Castela: por que MS é um celeiro do sertanejo no Brasil

  • 20/12/2025
(Foto: Reprodução)
De Almir Sater a Ana Castela: por que MS é um celeiro do sertanejo no Brasil "Aô, sofrência!" "Eu sou sol... Eu sou a lua" "Te dei o sol, te dei o mar" "Aí, se eu te pego, aí se eu te pego" "Eu criei filha minha pra ser boiadeira!" Nem sempre o sertanejo foi sinônimo de sofrimento amoroso, agronegócio ou músicas com batidas repetitivas. Mas, em toda a história dos 48 anos de Mato Grosso do Sul, o estado teve o ritmo musical como trilha sonora principal, segundo especialista ouvido pelo g1. Veja o vídeo mais acima. ✅ Clique aqui para seguir o canal do g1 MS no WhatsApp De Almir Sater e Delinha a Luan Santana e Ana Castela, o estado se consolida como um dos berços do ritmo musical. Além de solos férteis e artistas de sucesso, a força do estado no sertanejo aparece nos números: Campo Grande é a segunda capital brasileira que mais consome sertanejo, segundo a pesquisa Cultura nas Capitais, da JLeiva Cultura & Esporte em parceria com o Datafolha. Do sertanejo raiz ao universitário em MS. Reprodução Nesta reportagem, o g1 apresenta a história dos sertanejos: caipira, raiz, universitário e, do irmão mais novo, agronejo. Os relatos são feitos pelos artistas sul-mato-grossenses e pelo pesquisador de música regional da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), Evandro Higa. O sertanejo raiz: o moderno de anos atrás De Delinha a Ana Castela: a evolução do sertanejo em Mato Grosso do Sul Mari Camilo/ Érico Andrade/g1 Por trás dos números, há uma história que mistura tradição, modernidade e identidade regional. Segundo o professor e pesquisador Evandro Higa, os rótulos “sertanejo raiz” e “sertanejo universitário” são construções que mudam com o tempo. “O que é raiz hoje, ontem já foi moderno”, resume o pesquisador. Higa explica que o chamado sertanejo raiz é uma forma de olhar o passado com certa nostalgia. “As pessoas olham para trás e dizem: ‘aquilo era o verdadeiro sertanejo’. Mas isso muda com o tempo”, afirma. Um exemplo são as gravações da dupla Cascatinha & Inhana, nos anos 1950 — canções como Índia e Meu Primeiro Amor eram, na época, vistas como uma modernização da antiga “música caipira” dos anos 1930 e 1940. Dos bares aos intervalos de aula: o sertanejo universitário Décadas depois, o gênero voltaria a se reinventar. O sertanejo universitário surgiu nos anos 1990 em Campo Grande (MS), segundo Higa. O movimento teria começado na Chopperia do Rádio Clube, em Campo Grande, com a dupla João Bosco & Vinícius, estudantes de veterinária da UFMS. A dupla confirmou a informação ao g1. “Eles faziam um som acústico, de violão e voz, que agradava os universitários. Daí veio o nome ‘sertanejo universitário’”, explica Higa. Com o tempo, o estilo incorporou elementos do pop e se tornou um fenômeno nacional. Mato Grosso do Sul: o coração rural do sertanejo "Os grandes solos de guitarra do Brasil estão em música sertaneja" O pesquisador destaca que o sertanejo tem raízes profundas na formação social e cultural do estado. “Mato Grosso do Sul tem uma base agrária e rural muito forte. Essa conexão com as culturas do campo vem desde o século 19, com as levas de imigrantes vindos de Minas, São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul”, diz Higa. Além disso, a fronteira com o Paraguai exerceu grande influência na identidade musical local. Ritmos como a polca paraguaia e a guarânia se misturaram às modas de viola e ao rasqueado sul-mato-grossense, criando uma sonoridade única. Artistas como Mário Zan ajudaram a moldar esse estilo nas décadas de 1940 e 1950. “O rasqueado que fazemos aqui tem muito mais proximidade com as estruturas da polca e da guarânia do que com os primeiros rasqueados criados em São Paulo”, observa o professor. Essa fusão de ritmos consolidou uma identidade própria em Mato Grosso do Sul, onde o rasqueado e o sertanejo caminham lado a lado. “O sertanejo daqui carrega as marcas da nossa história, da paisagem e da convivência com o Paraguai. Isso é o que faz da nossa música algo tão singular”, conclui Higa. O estado é um dos poucos do país em que o sertanejo raiz e o universitário coexistem de forma tão forte. Enquanto nomes como Délio e Delinha e Almir Sater representam a tradição e a alma do campo, artistas como Luan Santana e João Bosco & Vinícius projetaram a visão do garoto do campo, mas que está na cidade. Filho de dois ícones da música sul-mato-grossense, Délio e Delinha, João Paulo Pompeu destaca a importância do rasqueado e das transformações do sertanejo ao longo das décadas. Sertanejo raiz Em entrevista, Pompeu explica como o estilo marcou a identidade musical do Estado e influenciou movimentos que ganharam o Brasil, como o sertanejo universitário e, mais recentemente, o agronejo. Segundo ele, o ritmo que consagrou sua mãe, Delinha, é o ponto de partida da trajetória musical sul-mato-grossense. “O sertanejo raiz que minha saudosa mãe cantava, o rasqueado, foi a base de tudo. Ela foi denominada como Dama do Rasqueado porque saiu de Mato Grosso com o meu pai, Délio, e levou esse ritmo para São Paulo”, explica. Ele lembra que o rasqueado é predominante no Mato Grosso do Sul e tem forte influência paraguaia pela proximidade de fronteira. “O rasqueado é a base de muitos outros ritmos. Tem a polca paraguaia, que é um rasqueado mais rápido, com ritmo ternário acelerado. E tem também a guarânia, que é um rasqueado mais lento. A partir dele começou toda essa evolução musical.” João Paulo reforça que Delinha manteve fidelidade ao estilo que a consagrou. “Minha mãe sempre gostou do sertanejo de raiz, do rasqueado de raiz. Ela nunca saiu desses ritmos.” Para ele, cada fase representa uma adaptação da arte ao seu tempo. “É tudo uma questão de ir se adaptando ao momento e à época. No sertanejo raiz você tem Délio e Delinha como pioneiros. No sertanejo universitário, João Bosco e Vinícius. E no agronejo, Ana Castela. Todos são artistas daqui. Isso é muito bom para o nosso estado.” Délio (Délio José Pompeu) morreu em 2010, de câncer de pulmão, e Delinha (Delanira Pereira Gonçalves) faleceu em 2022, de insuficiência respiratória. Loubet: o sertanejo como vivência Loubet: o sertanejo como vivência Assessoria Loubet Natural de Bela Vista (MS), o cantor Loubet se mudou para Campo Grande em 2012 para focar na carreira musical, tornando-se conhecido por seu estilo 'made in roça', 'sertanejo bruto' e raiz. “Sou um sertanejo de verdade. Nasci e cresci em fazenda, aprendi a lida na roça e carrego isso na minha arte.” Para ele, o agronejo é uma forma de dar voz ao campo e aos trabalhadores que movem o país. “O sertanejo, para mim, é verdade, é minha história transformada em canção.” Entre outros cantores sertanejos que 'nasceram' em Mato Grosso do Sul, há ainda Ana Castela, Michel Teló, Munhoz e Mariano e Luan Santana. Sertanejo universitário João Bosco & Vinícius: pioneiros do sertanejo universitário Felipe Picholl A dupla sertaneja João Bosco e Vinícius é considerada precursora do sertanejo universitário, que começou em Campo Grande por volta de 2002, segundo os artistas e o especialista da UFMS. A dupla campo-grandense foi uma das responsáveis pela popularização definitiva do gênero no Brasil. Para Vinícius, ser reconhecido como precursor do ritmo é motivo de orgulho e, ao mesmo tempo, responsabilidade. “Naquele momento o sertanejo invadiu as universidades e passou a ser o ritmo dos mais jovens. Hoje temos a certeza de que não fazíamos ideia do quanto o movimento que começou no MS mudaria a rota do gênero.” Sobre a constante renovação do sertanejo — do raiz ao universitário, e ao agronejo — eles enxergam o processo como natural. “Tudo vive em transformação. Mesmo olhando para o futuro, também reverenciamos os precursores, cantores, interpretes e compositores que vieram antes de nós, construindo de forma sólida o cenário que temos hoje. Quanto mais popular, mais eclético, melhor”, diz Vinícius. João Bosco completa: “O sertanejo é a trilha sonora do Mato Grosso do Sul, traduz o jeito simples e afetivo de viver. Para o sul-mato-grossense, sertanejo é memória.” A dupla destaca referências como Almir Sater, Délio & Delinha, Chitãozinho & Xororó, Leandro & Leonardo, Milionário & José Rico e Trio Parada Dura, entre outros. "O nosso jeito tão particular de fazer música alinhado aos nossos timbres formam a nossa marca registrada". Maria Cecília & Rodolfo: a força da tradição e da renovação Maria Cecilia e Rodolfo comemoram 15 anos de carreira com lançamento do primeiro DVD Divulgação Único casal do sertanejo, Maria Cecília e Rodolfo se conheceram na faculdade quando estudavam zootecnia e foi durante os intervalos (e de forma despretensiosa) que deram início a formação profissional. O primeiro sucesso saiu em 2008 com a música 'Você de Volta'. A dupla também reconhece a evolução constante do gênero. “A nossa história é pautada na transformação do sertanejo e na renovação do público”, afirma Maria Cecília. Para ela, o Estado é tão prolífico musicalmente porque “respira sertanejo”, desde as tradições do campo e do Pantanal até festas, rodeios e exposições. “Para o sul-mato-grossense, o sertanejo é identidade.” Rodolfo relembra as referências que moldaram a dupla — de Chitãozinho & Xororó a Chrystian & Ralf — e cita a importância de Délio & Delinha. Ele também destaca a influência de MPB e pop rock no percurso de Maria Cecília, que participou de projetos musicais antes da formação da dupla. Michel Teló - Com 32 anos de carreira, Michel Teló, de 44 anos, começou cedo na música. Aos 9 anos, ganhou sua primeira sanfona. Três anos depois, já cantava em bailes e, aos 14, montou seu primeiro estúdio, onde produzia para outros artistas. Apesar das raízes no sertanejo, também trabalhou com bandas de rock, MPB e pagode. Sua carreira ganhou força no Grupo Tradição, onde ajudou a popularizar um sertanejo com batida mais animada, inspirado no axé. Michel Teló encerra a Expo Cordeiro 2025 Divulgação Munhoz e Mariano - A dupla é formada pelos amigos de infância Raphael Calux Munhoz Pinheiro (Munhoz) e Ricardo Mariano Bijos Gomes (Mariano), ambos nascidos em Campo Grande. Desde a infância, Munhoz e Mariano já cultivavam as primeiras notas musicais: vizinhos desde os 6 anos, começaram a trabalhar muito jovens e desde cedo compartilhavam o sonho da música. A dupla foi oficialmente formada em meados de 2006, embora no início tenham atuado de forma informal em bares e eventos locais. Munhoz e Mariano Divulgação Luan Santana- Campo-grandense, Luan Rafael Domingos Santana, 34 anos, é cantor e compositor brasileiro, de música pop e sertaneja. Com três anos já cantava música sertaneja, gênero popular na região, sendo incentivado pela família que lhe deu um violão de presente. Em 2007, Luan Santana subiu ao palco pela primeira vez, na cidade de Bela Vista (MS). Em 2008 gravou, de forma amadora, seu primeiro CD, com as músicas “Vê se Leva a Sério”, Luan Santana ao vivo em 25 de outubro, em Curitiba (PR) Reprodução / X Luan Santana Da fronteira ao Grammy: Ana Castela, a representante do agronejo Apresentação de Ana Castela na Tusca 2025, em São Carlos (SP) Jéssica Campos/ g1 Fenômeno do momento, a cantora de 22 anos, nasceu em Amambai (MS) e criada em Sete Quedas, na fronteira com o Paraguai. Ela carrega as raízes sul-mato-grossenses na estética e na música. Durante a pandemia, começou a postar covers de pop, rap acústico e sertanejo nas redes sociais — e chamou atenção. De volta a Sete Quedas, gravou um vídeo caseiro cantando uma música de Loubet; o conteúdo viralizou e a impulsionou ao mercado artístico. O primeiro tiro já foi no alvo. Em 2021, lançou o primeiro single profissional, “Boiadeira”, que viralizou e apresentou sua estética do agronejo. Veja vídeos de Mato Grosso do Sul:

FONTE: https://g1.globo.com/ms/mato-grosso-do-sul/noticia/2025/12/20/de-almir-sater-a-ana-castela-por-que-ms-e-um-celeiro-do-sertanejo-no-brasil.ghtml


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