'Emicida Racional VL 2': rapper se inspira em Racionais MC's para buscar novos caminhos

  • 11/12/2025
(Foto: Reprodução)
Em seu novo álbum, Emicida entrega um dos trabalhos mais pessoais da carreira, refletindo sobre a morte da mãe, Dona Jacira, reflexões sobre família e homenagem ao Racionais Mc's. O resultado é um disco que amplia o repertório do artista e mostra como ele continua relevante num gênero que muda rápido. Mas, que pode ser difícil de ser compreendido para um público menos acostumado com as complexidades de uma letra de rap. Quando foi anunciado "Emicida Racional VoL.2: Mesmas Cores e Mesmos Valores", uma dúvida surgiu: qual Emicida viria aí? O rapper da primeira combativo da primeira mixtape, o artista expandiu seus temas em discos como focados em negritude e raízes históricas, ou o qual chegou ao auge popular com "AmarElo" em 2020? Com mais de 20 anos de carreira, Emicida virou professor convidado na Universidade de Coimbra, presença frequente em programas de opinião e figura pública articulando debates sobre sociedade e experiência pessoal. Mas o Emicida de 2025 decidiu voltar às origens, ao MC das batalhas, oriundo da Zona Norte de São Paulo, que rimava em qualquer lugar. Antes de "Emicida Racional VL.2: Mesmas Cores e Mesmos Valores", ele lançou "VL.3: As Aventuras de LRX e DJ Relíquia, ao lado de DJ Nyack". Capa do EP 'Emicida Racional VL. 3: As aventuras de Dj Relíquia e LRX' Créditos: Redes sociais/Cecropia O projeto revisitava bases clássicas dos Racionais MC's e intercalava versos históricos da carreira de Emicida. Era ousado e preparava terreno para algo maior. O mote dessa trilogia parte de um verso: “Quando os caminhos se confundem, é necessário voltar ao começo.” E, para Emicida, o começo tem nome: Racionais MC’s. Esse retorno tem dimensões pessoais e artísticas. No lado íntimo, funciona como processo de reencontro após anos turbulentos: o fim da parceria com o irmão Evandro Fióti na gravadora Laboratório Fantasma e a morte da mãe, Dona Jacira, em meio ao conflito familiar. No campo musical, Emicida revisita valores que, segundo ele, o rap atual parece ter esquecido. Ao longo do álbum, ele disseca a discografia dos Racionais, dos samples às rimas, das narrativas às simbologias. “Tem coisa que só um fã é capaz de fazer”, afirmou em entrevista a Pedro Bial. É um trabalho de amor e também de incentivo para o público explorar a música em camadas mais profundas, para além de legendas e trechos virais. O disco não é apenas uma releitura de "Cores e Valores" (2014); é um espelho entre passado e presente. Interpola trechos, dialoga com estruturas, mas se dedica sobretudo a refletir sobre a vida atual de Emicida. Isso pode confundir ouvintes desavisados, que talvez esperem apenas um remix do trabalho dos Racionais. Capa do disco 'Cores & Valores' do grupo Racionais Mc's Créditos: Redes sociais/Divulgação A abertura traz uma colagem de cinco minutos com áudios de Dona Jacira: dúvidas cotidianas, pensamentos soltos, comentários sobre escrita. A faixa termina com dois minutos de choro de Emicida, um registro cru de luto. Faixas instrumentais como “O que noiz faz com essa dor” e “A coisa mais esperançosa e mais dilacerante são a mesma” contam histórias sem palavras, conectando instrumentais de Racionais, Sandra de Sá, Tim Maia e da própria discografia de Emicida para construir uma linha histórica da música preta brasileira. “A mesma praça”, com Rashid e Projota, que revisita a confusão que marcou a Virada Cultural de 2007 e proibiu shows de rap no centro de São Paulo por anos, é uma releitura de "A praça" dos Racionais, sob a perspectiva do público. Já “Preto Zica” ganha roupagem de samba e participação das filhas de Emicida. Uma das imagens centrais do disco são as curvas de Lissajous — formas matemáticas que expressam a relação entre ondas de diferentes frequências. Aqui, simbolizam o entrelace entre o artista e seus ídolos. A capa, fotografada por Walter Firmo, mostra um estúdio bagunçado diante de uma mata, com uma poltrona que remete à terapia. Segundo o rapper, o projeto é um filho das madrugadas e reflexões sem fim. Capa do disco 'Emicida Racional VL.2: Mesmas Cores & Mesmos valores' Créditos: Walter Firmo/Cecropia Não é um disco simples: os longos áudios caseiros, a estrutura irregular (algumas faixas duram 1min50, outras 5, outras 10), a quase total ausência de refrões e a densidade de referências podem afastar ouvintes habituados a formatos mais “palatáveis”. Mas essa complexidade é intencional. O álbum é pensado para ser investigado, um convite a mergulhar no rap com o fervor de um pesquisador, especialmente em faixas como "Finado Neguinho Memo". Então, separe o seu dicionário e boa sorte. No contexto político atual, em que parte da sociedade tenta associar música urbana ao crime, o disco funciona também como protesto, denunciando a violência do Estado e defendendo a legitimidade cultural do hip-hop. No fim, "Emicida Racional VL.2 - Mesmas Cores e Mesmos Valores", não é feito para quem conheceu Emicida pelo "AmarElo". É uma carta de amor ao rap, aos Racionais e à própria história. Um trabalho para fãs — especialmente os mais nerds do rap — e, dentro dessa proposta, cumpre seu papel com precisão.

FONTE: https://g1.globo.com/pop-arte/noticia/2025/12/11/emicida-racional-vl-2-rapper-se-inspira-em-racionais-mcs-para-buscar-novos-caminhos.ghtml


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